terça-feira, 12 de agosto de 2014

Obscurity Tears e os primórdios do Rock n Roll Vitoriense! Embarque nessa volta ao tempo.



Por Raphael Oliveira - Falar de Rock vitoriense e não falar da Obscurity Tears é um sacrilégio. Por isso, nada melhor do que chamar um dos caras que participou ativamente da cena musical vitoriense, quando muitos leitores desses blog nem eram nascidos. Falo do meu amigo Evandro, guitarrista da Obscurity Tears, fiz esta entrevista exclusiva com esse, porque não, ícone do Rock vitoriense para que os mais novos entendam um pouco da ralação da galera que começou a tocar música de qualidade aqui em Vitória de Santo Antão. Agora lhes convido para voltar no tempo nessa entrevista recheada de fotos do arquivo pessoal do Evandro. Não estranhem as vastas cabeleiras nas fotos mórbidas e obscuras dos caras que hoje são pais de famílias e se lembram de toda aquela época com muito carinho. Enjoy!



OsomNaCidade - Como sabemos, você é guitarrista, como foi seu interesse pela guitarra? Lembra-se do primeiro instrumento?

Evandro - Primeiramente parabéns pela iniciativa e obrigado pelo espaço. Bem, comecei a tocar guitarra com 16 anos, escutava bandas como Guns N´Roses, Nirvana, Metallica, Legião Urbana, etc. Bandas que tinha acesso na época. Aprendi a tocar praticamente sozinho, tudo na raça mesmo. Meu primeiro instrumento foi uma Giannini Stratosonic tosca e surrada que fiz uma troca em uma bicicleta com meu amigo Luciano Miranda (ex-baixista e tecladista da Obscurity Tears) onde levei um super “fumo” na troca (rsrss).
Depois disso comecei a querer entender o instrumento e a primeira frustração foi saber que o som da guitarra pura não tinha aquele timbre pesado das bandas que ouvia, ou seja, eu precisava de algum equipamento para drives e distorções. Naquela época, 1995/96 o acesso a equipamentos era bem diferente de hoje em dia, pra comprar um jogo de cordas, uma palheta, só indo a Recife. Com o tempo fui me entrosando e conhecendo músicos da mesma época que eu e trocando informações, dicas e tal. Lembro-me que comprei um pedal de distorção que na época era o clássico pra heavy metal e afins, o famoso Boss Metal Zone, e os guitarristas da época (Wellington, Eduardo, Flávio Valério, Augusto, dentre outros.)  foram até minha casa pra “sacar” o som do pedal, era uma época muito legal. Com o tempo comecei  a tentar montar banda e tal... Eu e Wellington (ex-guitarrista e vocalista da Obscurity) tentamos montar uma banda, e com isso aprendemos juntos realmente a criar riffs, solos e arranjos. Nessa época o Death Metal era a palavra da vez.

OsomNaCidade - Como foi a formação da banda Obscutiry Tears, como conheceu os membros da formação original e como foi a ideia de montar a banda?

Evandro - O Obscurity Tears na verdade surgiu da evolução de duas bandas: a Scum que era uma banda de Death Metal, que contava com Denes Santos na bateria, Júnior Vidrozito no baixo, Flávio Marcelo na guitarra, Flávio Valério também na guitarra e Wíres Alves nos vocais. Com toda certeza a primeira banda de Metal de nossa cidade. Scum chegou a tocar na segunda edição do Blizzard of Rock em meados de 1993/94. O famoso “show da toca“ , onde aconteceram coisas bizarras, dentre elas um acidente com o ônibus que veio trazer as bandas e público de Recife (se não me engano o ônibus ao retornar a capital pernambucana, atropelou um motoqueiro...).  A outra banda, que na verdade foi a sequencia da Scum foi a Smashed Face, que foi na verdade o que criou os moldes do que seria a Obscurity Tears.
Nessa época, a banda mesclava Death Metal com partes e climas Doom. Conheci o pessoal na loja Mascate Som, do nosso amigo Cristóvão, comecei a frequentar alguns ensaios e shows, algum tempo depois veio o convite e até hoje aqui estou.


OsomNaCidade - Naquela época era uma ousadia uma banda do interior que tocava Metal pensar em lançar um Disco, como foi a experiência?

Evandro - Bem, entrei na banda em meados de 1997/98. A banda já tinha um pouco mais de experiência em palco e repertório já definido, com isso muitos shows pintavam no circuito underground da época. Em 1999 decidimos nos preparar para gravar nosso primeiro CD, nessa época tínhamos um estúdio próprio (o único da cidade) para realização dos nossos ensaios (e bebedeiras). Nessa época, conhecemos Nitelma Lima, que começou a frequentar os ensaios da banda. Certo dia ela resolve “brincar” e cantou um trecho de uma música lá qualquer... Lembro-me que todos ficaram observando...  
Dias depois comentamos a hipótese dela cantar apenas trechos das nossas músicas, no estilo backing vocal. A coisa deu certo ao ponto de determinarmos ela como vocalista da banda. Com isso, a Obscurity  além de ser a primeira banda de Doom Metal de Pernambuco, foi  pioneira também nessa mescla de metal extremo + vocais femininos no nordeste. Meses depois, após adaptarmos algumas músicas e criar outras especificamente para a voz da Nitelma, resolvemos agendar as datas de estúdio. Na época, ninguém tinha carro e resolvemos pedir apoio à prefeitura para um transporte a capital pernambucana. Era um micro-ônibus velho caindo aos pedaços que nos levou durante 4 semanas ao estúdio de Delbert (amigo indicado por  Apolo Natureza) onde lá, fizemos as gravações do que seria o Songs For a Black Winter.
Gravação finalizada ficou tudo lindo? Não... a gente queria um cd pesado de verdade!
O resultado não atingiu nossas expectativas, decidimos fazer uma remixagem, fomos a outro estúdio e mesmo assim, ao ouvir o CD em casa a sensação era de que “faltava peso” e com isso outra mixagem num estúdio muito famoso na época o DB3 que foi indicado por Aninha, esposa de Washington (The Ax). Lá finalmente conseguimos chegar nos timbres que queríamos, e com isso fomos pra casa com a matriz remixada e estourando os auto-falantes por ai a fora de tanto grave e pedal duplo. Todos felizes com isso rsrsrs

OsomNaCidade - Como foi a aceitação do material da banda aqui na região e no mundo, sabemos que vocês alcançaram um ótimo público além do público brasileiro.

Evandro - Em Vitória na época agente sendo do “Lado Negro da Força”, as bandas e públicos locais não apoiavam nem admiravam muito, mas isso nunca nos incomodou...
Éramos um time forte, unido, com  causa e metas determinadas. Voltando ao CD, após finalizar a mixagem, só tínhamos a matriz do CD e em poucas semanas era o 4 Blizzard of Rock, onde decidimos lançar o disco. Mas como, se só tínhamos a matriz? Foi agonia!!! Eu e Jefferson (violinista na época) conseguimos fazer 20 cópias com um drive de CD rabugento e imprimir de última hora um encarte improvisado, poucos minutos do show começar e eu e Jefferson ainda estávamos colocando os encartes nas caixinhas dos CDs... com isso o CD foi lançado nessa edição do Blizzard, vendemos as 20 cópias e essa versão, essas 20 cópias se tornaram raridade total, quem tiver que guarde!  Meses depois, começamos a fazer cotações de empresas para fabricar o CD, queríamos o CD em mãos o mais breve e nada de cópias vagabundas.
Lembro-me que fizemos um empréstimo com o pai de Flávio para bancar a prensagem e logo em seguida ir pagando com as vendas do disco. Após tudo resolvido, lembro-me da ligação de Flávio “Evandro, os CDs chegaram vem aqui ver...” chagando lá, estavam no quarto de Flávio  as inúmeras caixas da emprsa CD+  com todos os CDS lacradinhos e com aquele cheirinho de novo. Foi orgasmático! Desse dia em diante começamos a divulgar o Songs For a Black Winter, mandando pra zines, revistas, sites...
Na Rock Brigade tivemos nota 9.0 e fomos comparados com o Tirstania (banda de Doom Gothic muito famosa na época). Na Rodie Crew saiu a nota que citava a seguinte frase:
 Como uma banda vinda lá de Vitória de Santo Antão, interior de Pernambuco conseguiu compor um material tão denso e que poderia figuar lado a lado com os medalhões do estilo” – Ricardo Batalha, redação da Rodie Crew.
Com esse feedback, você pode imaginar como era nossa empolgação né Brother? E com isso, vieram muitos shows, muitos shows mesmo, pra uma banda underground agente tocava muito, cerca de 2 shows por mês em diversas cidades e até alguns estados do nordeste.
O CD também foi distribuído pra outros países, algumas gravadoras compravam o disco conosco e distribuíam mundo afora. Até hoje tem site gringo vendendo o Songs For A Black Winter, só pesquisar.
Em 2009, após diversas mudanças de formação e uma pequena parada, gravamos o EP My Chemical State, disco com uma produção bem melhor que o Songs, com uma gravação pesada e ao mesmo tempo cristalina, um disco mais direto e que estreava a Márcia Raquel nos vocais. O disco que também foi muito bem aceito e serviu para conseguir muitos shows no já saturado cenário metal de PE. Apesar de bem aceito, o My Chemical State foi lançado na era do MP3, com isso as vendas não foram boas e decidimos soltar o disco na internet pra todos baixarem, queríamos mesmo era tocar ao vivo, que sempre foi nosso ponto forte.

OsomNaCidade - Nos revele um show memorável da Obscurity.

Evandro - Bem, foram muitos shows em diversas épocas, diversas situações e lugares. Tocamos em locais com estrutura top de linha, mas também em muitos “buracos”.
Posso destacar alguns como o Killing of Carnival Creation no Recife Antigo, onde tocamos com uma das melhores bandas de metal do país, o Malefactor, que inclusive fizemos uma coisa inusitada, tocamos um cover do Jethro Tull com a participação de Lord Vlad nos vocais. Também destaco o show do By Area Festival, onde lotamos a o Docas (antigo clube que abrigava os shows de metal em Recife) e acreditem, todos tavam lá pra ver o Obscurity Tears. Era impressionante o feedback, a aceitação das músicas perante o público era perfeita.

OsomNaCidade - Como era ser músico em Vitória de Santo Antão naquela época, a organização de eventos, onde o pessoal se reunia para ouvir e fazer música.

Evandro - Ser músico no Brasil e ainda mais no interior não é tarefa fácil, se tratando de metal então...

Show basicamente só rolava o Blizzard, além disso, outros “curiosos” que organizavam alguns eventos muito mau feitos e sem estrutura decente, que inclusive, faziam questão de nos deixar de fora, nos tachavam de “estrelas”, a Obscurity despertava ódio, inveja e tudo que não presta nessas pessoas de pensamento pequeno que infectavam o cenário musical de Vitória na época, isso tudo era um alimento recheado de vitaminas pra nós. Sobre locais, tinham poucos ou quase nenhum lugar pra tomar uns drinks e escutar rock/metal. Geralmente as “festinhas” eram mesmo no nosso estúdio o “Black Winter Studio”.

OsomNaCidade - Ainda tem algum material perdido, esquecido ainda não lançado da Obscurity?

Evandro - Sim, temos material de shows antigos, vídeos restaurados de VHS e algumas músicas de uma pré-produção que foi feita em 2006. Todo esse material está arquivado, e penso em soltar algumas coisas pra o pessoal conhecer as diversas fases da banda.

OsomNaCidade - Sabemos a Obscurity Tears está parada, você tem alguma ideia pra voltar a cena musical da cidade, seja o retorno da OT ou algum outro projeto?

Evandro - A Obscurity está parada por tempo indeterminado, não temos planos agora de fazer nada quanto a isso, pois, todos estão muito atarefados com seus trabalhos, família e tal... rolou recentemente um papo de fazer um show comemorativo de 20 anos no Blizzard 2014, mas isso tudo ficou apenas entre espumas na mesa do bar rsrs.  Sobre projetos, recentemente eu, Júnior e Jefferson em plena Copa do Mundo, decidimos “fazer um som” e saiu umas coisas interessantes, nada definido, mas acredito que poderemos fazer um material legal em breve.

OsomNaCidade - Como você enxerga a cena musical atual da cidade?

Evandro - Confesso que estou afastado de tudo isso a certo tempo, mas algumas pessoas tem minha admiração pelo seu trabalho e afinco, posso citar o trabalho do amigo Barreto, do Gabriel Oleron e da Sexto Ato, que vem mantendo suas bandas/projetos sempre em alta. Gosto de ver pessoas determinadas correndo atrás de seus objetivos, esse blog é um bom exemplo disso, um espaço pra reunir as ideias, contar histórias e debater sobre música, cultura, arte...etc.






É isso pessoal!! Nessa entrevista você conheceu um pouco mais dos primórdios do Rock vitoriense, conhecer personagens e histórias bacanas, mas este post sobre a Obscurity Tears não vai acabar aqui, como o próprio Evandro nos falou, existem materiais inéditos que nunca foram lançados e que com certeza em breve vão pintar por aqui!! Nos aguarde!

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2 comentários:

  1. Muito boa a entrevista, a Obscurity foi a primeira banda autoral de Vitória a ralar pra ter um material próprio de qualidade e a fazer shows fora de Vitória, a galera mais nova que tem banda deve se espelhar neles e conhecer o trabalho independente da tribo musical.

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  2. Muito boa matéria, isso serve de exemplo para bandas, "(eu)", que começam agora, principalmente nessa área do rock!
    Vlw :)

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