terça-feira, 6 de setembro de 2016

Cineclube Avalovara - Uma ode ao Cinema Regional



Por Raphael Oliveira -

Cada vez mais consolidado no cenário  de entretenimento alternativo de Vitória de Santo Antão, o Cineclube Avalovara, que vem sendo capitaneado por Saulo Lima, Walter Andrade, Claudia Oliveira, Darlan Galvão e Vitor Colaço, trás cada vez mais participantes em cada sessão de exibição. A palavra "participantes" não é a toa, as pessoas que vão a uma sessão do Cineclube Avalorava não vão apenas para assistir à um bom filme, assistir é só a primeira etapa do processo, lá, muito além de assistir, ao final de cada sessão são discutidos os aspectos de cada tema abordado pela produção exibida naquele dia. O Cineclube Avalovara consegue ser plural tanto em seus temas, quanto em suas exibições, longas, curtas, documentários e em várias de suas sessões, apresentações musicais, eu mesmo já fui um dos que levaram música à uma sessão do cineclube.

O ano de 2016 vem sendo especial para o Cineclube Avalovara, no mês de Abril foi organizada com maestria a Primeira mostra de Cinema da Vitória, que aconteceu dos dias 14 à 17 de Abril, esse evento ganhou destaque na cidade e essa grande notícia chegou até a capital Pernambucana, a Mostra de Cinema foi citada no Jornal do Comercio e em outros veículos de imprensa do Recife. A Primeira mostra de Cinema da Vitória contou com mesas redondas, exibições de filmes, debates e oficinas.

A cada sessão, dá pra perceber que toda organização é feita na raça e na coragem de quem acredita que é importante essa movimentação cultural na cidade, como toda iniciativa desse porte e nesses moldes, o Cineclube também enfrenta problemas, sejam problemas financeiros ou até mesmo de infraestrutura, segue uma entrevista que foi feita com os membros do Cineclube Avalovara onde eu consegui reunir os cabeças do projeto em um bate papo virtual  (viva a tecnologia!) muito esclarecedor sobre como anda o Cineclube e quais as prospecções deste que já é um marco para a cultura vitoriense.



#OsomNaCidade - Primeiro vem a pergunta óbvia, mas inevitável. O que é um Cineclube? Qual o conceito por trás do termo e  o que os motivaram a iniciar um Cineclube em Vitória de Sto Antão?


Walter Andrade - Cineclube é um termo usado para se referir a um grupo de pessoas que se juntam para assistir e discutir filmes, alguns grupos também realizam estudos, oficinas e toda essa parte formativa. Surgiu no início do século passado e tá firme até hoje. A princípio os cineclubes eram mais espaços de intelectuais e pessoas voltadas para o cinema, mas depois foi aumentando seu campo de ação. Também serviu (e serve até hoje) como circuito exibidor paralelo. Muitos filmes não tem espaços em salas de cinema comercial (multiplex, uci...) e por isso acabam recorrendo aos cineclubes como forma de divulgação do trabalho. Um cineclube também é um espaço de ação política também, pois vai de sentido contrário a homogeneização do cinema ao difundir uma gama maior de produções. Alguns grupos adotam temáticas específicas, mas sobretudo os cineclubes, de modo geral, funcionam como propagadores de ideias e espaços propícios para reflexão social e cultural.
O Avalovara surgiu muito pela carência de um espaço dedicado ao cinema na cidade. Havíamos ficado sem salas de cinema após o fechamento das salas independentes. Foi aí que o Saulo Lima, Hacsa Priscila e eu resolvemos criar um cineclube e trazer alguns filmes que dificilmente seriam exibidos em Vitória. Nós estávamos muito em contato com os circuitos do Recife, havíamos acabado de entrar na faculdade, víamos coisas novas e legais nos Cinema da Fundação/São Luiz, nos cineclubes e festivais de lá, tudo isso nos motivou e em abril de 2013 exibimos nosso primeiro filme. O interesse em movimentar a cena da cidade, oferecer mais opções de lazer para as pessoas também foi um fator que pesou bastante.

#OsomNaCidade - Qual o envolvimento de vocês com o áudio/visual antes da formação do Cineclube?

Walter Andrade - Só como pessoa que gostava de ver filmes, de fotografia, mas não tinha estudo ou formação na área.


Claudia Oliveira - Eu acabei entrando pra equipe muito mais pela proximidade com os meninos que estavam à frente, porque eu nunca tinha tido experiência do tipo e também não tinha muita maturidade, sabe? Assistia muita coisa, mas desconhecia muito das produções daqui. Incrível pensar hoje, passados mais de 3 anos, no quanto o Cineclube Avalovara mudou minha relação com o cinema e a maneira de ver os mundos (reais ou não) através das telas.

#OsomNaCidade - Eu já participei de algumas sessões do Cineclube Avalovara e pude perceber que a linguagem das produções exibidas nas sessões trás uma carga muito grande de regionalismo, é proposital?

Darlan Galvão -  A principal proposta do Cineclube é de exibir filmes numa escala regional. Colocando como prioritários filmes de produção pernambucana e/ou nordestina e depois nacional e internacional. Entendemos que o cineclube é um espaço de experiência cinematográfica e de debates e o cinema pernambucano fora do eixo comercial tem esse viés... Então,  além do regionalismo, usamos com relevância crítica que possibilite o debate e a reflexão.


#OsomNaCidade - Como foi organizar uma mostra de cinema aqui em Vitória de Sto Antão?

Walter Andrade - Organizar a mostra foi bem difícil por conta da burocracia de um edital público e pela falta de apoio na cidade. além disso você tem que tá se desdobrando para conseguir ajeitar o espaço, aí gera problema de adequação e intervenção no mesmo... outra coisa é articular o público também, apesar de termos ficados satisfeitos com o resultado =).


#OsomNaCidade - Vocês poderiam citar uma sessão que foi um destaque para a história do Cineclube? Seja pela produção exibida ou por qualquer outro motivo.

Walter Andrade - Para mim é muito difícil escolher só uma sessão, mas se puder, vou destacar duas das que mais gosto. A primeira foi a de abertura, com febre do rato. Já que foi nossa primeira, tínhamos toda uma expectativa, além do processo até chegar nela. E deu um bom número de pessoas, então foi massa. A segunda foi o filme do Dominguinhos, que contou com a participação da Marcia Pequeno e do Waldyr Lyra na sanfona.


Claudia Oliveira - Puts, velho! Que pergunta difícil! (risos) Eu costumo dizer que cada sessão é uma emoção nova. Mas destaco, além das que Walter mencionou (meu coração pulou só de lembrar), nossas sessões de aniversário: em abril de 2014, exibimos “O Som ao Redor”, de Kleber Mendonça Filho, e contamos com a participação de Yuri Holanda e Clébia Sousa, que fazem parte do elenco. Em 2015, exibimos o esplêndido “Tatuagem”, de Hilton Lacerda, e nossa festa foi uma culminância de várias linguagens: Gustavo Free, Kléber Oliveira, Pablo Dantas, os Filhos da Invenção e Graxa (!!!) abrilhantaram a sessão. Inesquecível!

Vitor Colaço - Já são pouco mais de três anos de atividades - dois na equipe - e muita coisa escapa da memória, então, puxarei da memória recente: a primeira sessão do ano, no dia 29 de maio, exibindo "Em trânsito" (2013), curta-metragem do pernambucano Marcelo Pedroso, e o clássico "Terra em transe" (1967), do grande Glauber Rocha, certamente ficará na memória afetiva cineclubista (e pessoal), pela expectativa, pela inesperada grande quantidade de espectadores e pelo ótimo debate gerado.


#OsomNaCidade - Existe alguma produção que ainda não foi ser exibida, seja por qualquer motivo, mas que vocês gostariam muito de exibir para os espectadores de Vitória de Sto Antão?

Walter Andrade - Existem algumas mais novas e de alguns clássicos que por conta dos direitos autorais a gente fica impedido de fazer. Uma que tá encaminhada e ainda gostaríamos de fazer é com os filmes do Rainer Werner Fassbinder, diretor alemão que gosto muito.

Claudia Oliveira - É engraçado falar nesse assunto porque cada um tem suas preferências, né? Eu mesma tenho várias! (risos) Mas no momento eu voto na sessão única da Trilogia das Cores. Imagina só... Uma noite inteira de Krzysztof Kieślowski!

Vitor Colaço - Brasil S/A, novo longa de Marcelo Pedroso, em cartaz nos cinemas, certamente é uma grande expectativa. Esperamos exibi-lo em breve. É uma obra singular, será uma experiência interessante. 

#OsomNaCidade - Quais diretores preferidos de vocês?

Walter Andrade - Já entreguei o Fassbinder aí em cima kkkkk. Gosto ainda do Stanley Kubrick. Também gosto de alguns outros, mas vou falar de um daqui para equilibrar: gosto muito do Gabriel Mascaro.

Claudia Oliveira - Eita, difícil também. Mas de cara cito Eduardo Coutinho – melhor documentarista dos últimos tempos, Wes Anderson, Ingmar Bergman... E daqui, cara, como não citar o cinema pernambucano, né? Gabriel Mascaro é um nome que eu destaco sem medo de errar também.

Darlan Galvão - Quando se trata de filme nacional, só fui pensar nos diretores só recentemente,  até pq só recentemente é que no Brasil o diretor tomou mais corpo e importância,  não que antes não existisse,  mas hoje é muito mais midiático o nome do diretor. Por causa disso sempre acompanhei diretores estrangeiros como Stanley Kubrick, Tarantino e Coppola, Lars von Trier.

Saulo Lima - Poderia citar Alejandro Jodorowsky e Krzysztof Kieślowski como grandes diretores. Wim Wenders também, mais especificamente o filme "Paris, Texas".

Geneseli Dias - Além de alguns citados, tenho apostado em Anna Muylaert. 

#OsomNaCidade - Como vocês podem notar, o blog trata sobre música e o cenário musical da cidade. O que vocês costumam ouvir?

Walter Andrade - Gosto de muita coisa, principalmente de música brasileira. Desde a era da MPB mais antigona (Milton Nascimento, Gonzaguinha) até as bandas mais novas que às vezes atravessam gêneros, como Baiana System; Bixiga 70 e por aí vai. Música internacional ouço mais rock, blues e jazz.

Claudia Oliveira - Então... Eu sou “musicopolar”. A música acompanha muito meu estado emocional e vice-versa. Mas sempre acabo voltando, hora ou outra, pros clássicos Beatles, Pink Floyd... E o que falar da década de 70, né, gente? Principalmente aqui no Brasil, com Alceu, Belchior, Lula Côrtes, Sérgio Sampaio, Novos Baianos, Secos e Molhados e tantos outros.
Ultimamente, estou muito ligada à cena musical pernambucana contemporânea também. Céu, Juliano Holanda, Siba, Lirinha, Thiago Emanoel Martins (anotem este nome!), Kalouv, Vitor Araújo... Vish! É uma lista imensa. Outra hora a gente conversa sobre isso.

Darlan Galvão - Assim como Cláudia a música acompanha muito meu humor, mas não sou de procurar algo novo... escuto de The Doors a Led Zeppelin passando por Bauhaus, the Cure, Kreator... MPB e música pernambucana em geral... aqui fica difícil listar... Mas, ultimamente me tornei muito eclético.


#OsomNaCidade - Para finalizar, gostaria das suas considerações finais, nos dizendo o que podemos esperar do Cineclube Avalovara para o futuro e junto com essas considerações uma indicação, seja de longa, curta ou documentário que vocês poderiam deixar para os leitores do blog O som na Cidade.

Walter Andrade - Acho que vai vir muita coisa boa por aí, a gente tá com gente nova na  equipe (entraram semana passada) e vamos ter mais fôlego para levar as ideias para frente. Estamos com muitas ideias encalhadas hehe.
De indicação, de novo eu deixo mais de uma indicação kkkkk, desculpa aí. Mas não precisa considerar todas. Aquele filme do Dominguinhos que falei lá em cima é maravilhoso, vale a pena assistir. Enfim, os outros, são dois filmes bem relacionados à música, o primeiro é uma linda homenagem ao Itamar Assumpção e que me emocionou bastante, por "Daquele Instante em Diante" (2011) - Rogério Velloso.
O segundo é sobre o Nick Cave, não sou conhecedor do trabalho dele, mas acho que mesmo assim vale demais assistir: "Nick Cave - 20.000 dias na Terra" (2015) - Iain Forsyth e Jane Pollard.

Claudia Oliveira - Agora, temos Patrícia Araújo e Geneseli Dias na equipe (O Som na Cidade recebendo a novidade em primeira mão), que vêm somar muito ao projeto. Ideias e força de vontade a gente tem de sobra, apesar de todas as dificuldades (estruturais, financeiras etc), então podem esperar muita coisa boa ainda. Preciso me controlar pra não falar muito, aí eu deixo apenas uma indicação: “A História da Eternidade” (Camilo Cavalcante, 2014), que é cheio de emoções.  Sucesso pr’O Som na Cidade! Um prazer compartilhar essa experiência com vocês.

Vitor Colaço - O Cineclube Avalovara continuará firme e forte na sua missão de espalhar por estas terras da zona da mata centro o cinema independente, o cinema que raramente chega às salas de exibição confortáveis dos shopping centers, o cinema de guerrilha, o cinema de contestação social/política e, se esta missão for eterna, eternos seremos. Como o blog é musical e estamos em época de eleições no país, deixo a indicação do documentário "Finding Fela!", de 2014, sobre o grande nigeriano Fela Kuti, criador do gênero afrobeat e um dos maiores subversivos políticos do século XX.

Geneseli Dias - Vou começar respondendo essa pergunta falando sobre minha satisfação de fazer parte da equipe. Diante de tudo que o Avalovara significa, eu espero muita coisa boa pela frente e discussões construtivas, bem como o crescimento do cineclube e um alcance cada vez maior do público. Sempre que me pedem uma indicação, sugiro o filme "Dogville", do Lars, pois foi um filme que me marcou muito. É isso ae, galera!

Comente com o Facebook:

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...